IRÃ – Uma viagem surpreendente
IRÃ – Uma viagem surpreendente Por: Silvania Capanema – Jornalista e escritora
Para quem gosta de viajar para países exóticos, conhecer culturas diferentes e uma riquíssima história, escolha o Irã como próximo destino. Ficará surpreendido com a beleza das mesquitas, palácios, jardins e paisagens.
O povo iraniano é cortês, alegre, culto e faz festa quando dizemos que somos do Brasil, pois adoram futebol e sabem o nome dos jogadores e dos times famosos. A culinária é rica e as frutas secas e doces são deliciosos. Fazem questão de se identificar como persas e falam o parsi, expressão de uma cultura literária milenar e de qualidade. Mesmo que o atual governo islâmico imponha os costumes muçulmanos e o aprendizado do árabe, que é o idioma do Corão, os iranianos têm liberdade religiosa e cultuam seus hábitos milenares. A vida familiar íntima, no interior dos lares, é bem diferente do comportamento obrigatório em público. À parte da comunidade religiosa praticante islâmica xiita, estimada extra-oficialmente em apenas 15% da população, os demais cidadãos são sunitas, zoroastrianos, cristãos, em menor número e uma minoria judia. A face mais visível da imposição dos aiatolás e seus seguidores são as restrições às mulheres.
IRÃ – Uma viagem surpreendente
O uso do véu cobrindo a cabeça sem aparecer os cabelos e de roupas largas cobrindo os punhos e tornozelos é apenas em público. No interior de suas casas, entre familiares próximos, podem se vestir como quiserem. Como, em público, só mostram o rosto, impressiona a quantidade de jovens que fizeram plástica estética no nariz. As moças, com um mínimo de recurso financeiro, estão sempre bem maquiadas e com tatuagem nas sobrancelhas, que já são, por natureza, grossas, para chamar a atenção para os olhos. Nas grandes cidades, ao final da tarde e no fim de semana, que para os iranianos é na quinta e na sexta-feira, é comum vermos moças sem o véu, substituído por boné, trajando roupas esportivas como calça de malha justa e camiseta. Somente as mulheres religiosas usam o manto negro – que não é burca – por cima de várias saias também negras e calçado fechado com meias longas pretas. Os homens costumam cobrir as pernas, mas usam camisetas como os ocidentais. Os homens se beijam (três beijos nas faces) quando encontram familiares e amigos. Vê-se rapazes caminhando de mãos dadas- não existe preconceito, faz parte da cultura. Nas mulheres não se toca. Presenciei um pequeno acidente de moto: o homem continuou assentado enquanto a moça caiu e saiu rolando. Acudiram prontamente o rapaz, mas a moça precisou se levantar sozinha, com dificuldade porque estava visivelmente machucada. Há total predominância de homens à frente dos negócios e até guiando veículos. Por ocasião da Revolução Islâmica, em 1979, os governantes expulsaram as mulheres das universidades e do exercício de profissões liberais. Porém, logo perceberam o peso sobre os homens na manutenção da família e as mulheres voltaram a poder estudar e trabalhar fora do lar. O consumo de bebida alcoólica é proibido em público.
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Outra imposição é a proibição do uso da internet, facilmente burlada, pois é comum vermos jovens conversando e trocando mensagens por Instagram nos seus celulares. Na classe mais abastada, os jovens vão para o exterior fazer intercâmbio e estudar nas universidades e voltam ocidentalizados, influenciando o comportamento da parcela mais jovem da população, que é maioria no país. Estima-se uma população de 48 milhões de iranianos mais cerca de 7 milhões de imigrantes irregulares do Afeganistão e de outros países vizinhos, maioria curdos. Portanto, querendo ou não, em um futuro próximo, os aiatolás terão dificuldade em manter o país sob o restrito domínio religioso islamita. Os iranianos têm pavor de irromper uma guerra civil dentro do país ou contra o inimigo principal, o Iraque. As lembranças da matança na guerra Irã x Iraque são dolorosas, todas as famílias têm mártires, quase sempre muito jovens, os que fugiram de casa para lutar pela pátria. Esta lembrança é cultivada pois todos os acessos e vias principais das cidades têm dezenas de fotos destes rapazes mártires pregados de poste em poste, o que parece ser uma forma do Estado alimentar um sentimento da população contra qualquer tipo de violência. Daí estarem alheios e distantes dos conflitos entre Israel e palestinos.
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Comércio
O poder de compra sofre com as restrições americanas, por exemplo, as bandeiras dos cartões de crédito internacionais não atuam no país. As transações são feitas em dinheiro vivo, com três “moedas” paralelas, ou seja, uma mesma nota tem três valores diferentes, o que deixa o turista desorientado. Os iranianos têm um cartão do governo que subsidia transporte e saúde. O serviço público de saúde é tido como muito bom e os medicamentos são de qualidade (importados) e de baixo valor. O governo incentiva que os casais tenham muitos filhos. Todo cidadão tem que depositar seus ganhos em um banco estatal e sacar desta conta os gastos subsidiados. Daí o governo cobra diretamente os impostos do cidadão. Por estas razões, não existe nota fiscal, persiste a prática milenar de escambo e as mulheres compram joias de ouro e guardam em casa, uma segurança no caso de divórcio – onde sempre o homem fica com tudo- ou no caso de precisar sair do país.
A economia é baseada no petróleo, riquezas minerais, inclusive o fosfato natural (fertilizante) exportado para o Brasil e derivados da indústria siderúrgica como aço, peças para a indústria naval e automobilística e de bens de consumo, como aparelhos de condicionamento de ar e eletrodomésticos. O principal aliado comercial é a Alemanha, que tem altos lucros com a intermediação dos negócios com o bloco ocidental. Quanto ao comércio com os países orientais, principalmente China e Índia, exportam petróleo, fosfato e frutas e importam manufaturas e vestuário. Apesar do clima desértico, um sistema milenar de irrigação permite o cultivo dos itens básicos da alimentação e a exportação de frutas.
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Planeje sua viagem
A melhor estação do ano, com temperatura amena (para os iranianos) e sem chuvas é entre setembro e novembro, embora possa ter picos de calor, o que tem acontecido por toda parte. O clima é desértico, calor no meio do dia e temperatura agradável depois do por do sol. As rotas aéreas oferecidas, para quem sai do Brasil, são via Istambul, na Turquia, ou via Dubai. As três principais cidades são Shiraz, ao sul, Isfahan ao centro e Teerã ao norte. Tanto estas como as cidades do interior são muito limpas, bem cuidadas, muito arborizadas e repletas de lindos jardins floridos. É bastante agradável passear pelos parques e caminhar nas ruas fechadas de comércio, repletas de mulheres e crianças. O comércio central tem farmácias, fast-food chineses e coreanos, farmácias, mercadinhos e joalherias. O comércio de roupas é bem pobre. Fora do centro, o comércio é setorizado. Chama a atenção a quantidade de lojas de lustres, sinal de status. O turista pode passear com tranquilidade, não há perigo, desde que se evite as imigrantes curdas que pedem esmola. O trânsito é caótico, uma bagunça inacreditável, vale a lei do mais atrevido, não existem semáforos (e se existem estão apagados) nem faixa de pedestre. Em todas as cidades há um centro histórico onde estão as mesquitas, o mercado principal, escolas primárias, museus e os principais edifícios institucionais.
O país é ligado por ótimas rodovias pois o asfalto é de alta qualidade. As estradas praticamente não têm pontos de apoio e são intensivamente vigiadas pela polícia para restringir ao máximo qualquer tipo de tráfico ilegal. Por esta razão, desaconselho qualquer viagem de turismo que não seja feita através de operadoras iranianas, pois são muito desconfiados de estrangeiros.
Para quem pouco tempo, no caso de um roteiro internacional, Ispahan representa o que tem de mais genuíno e belo da cultura iraniana, seguida de Teerã, que por ser a capital, é uma cidade cosmopolita e rica. Tendo mais tempo, mínimo de doze dias, o ideal é cruzar o país de sul a norte, ou vice-versa, para realmente dizer que conhece o Irã.
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Pontos turísticos de destaque (na maioria patrimônios tombados pela UNESCO) na rota Shiraz-Yazd-Isfahan-Kashan- Qom-Teerã:
Shiraz: Mesquita Vakil e Gran Bazar (centro histórico), Mesquita Nasi-ol-Molk (Mesquita Rosa), Palácio e jardins Aliebn-e Hamzeh Shrine,Tumba de Hafez e jardins, cidadela de Karim Khan, Portão Quran. Hospedagem: Shiraz Grande Hotel (5*)
Nos arredores: Ruinas de Persépolis e Tumbas Naghshe Rostan; Pasárgada e Túmulo de Ciro, o Grande.
Yazd: centro histórico –uma das cidades mais antigas do mundo- Torre do Silêncio, Templo do Fogo, Mesquita Jamme, Complexo Amir Charmak, Jardim Dowlat Abad.
Isfahan: centro histórico com a Praça Maidan-e-Naghsh-e-Jahan, segunda maior praça do mundo, Palácio Ali-Qapu, Mesquita Sheikh Lotfollah, Mesquita Imam e Grand Bazar, Mesquita Jome (Mesquita de Sextafeira). Hospedagem: Abbasi Hotel (5*)
Qom: Santuário de Fátima.
Teerã: Palácio Golestan, Museu Nacional, Museu dos tapetes, Palácio saad Abad< mausoléu de Tadrish, Monumento Azadi, Ponte e parque Tablat, Mausoléu Imam Khomeini. Hospedagem: Espinas Palace (5*)
Descrever em palavras as magníficas mesquitas, os riquíssimos palácios e museus, os encantadores jardins, enfim, todas as maravilhas do Irã, não é nada comparado à sensação visual de estar nestes lugares carregados de história. Citei os nomes para que o leitor possa ver as imagens e descrições na internet e fazer uma viagem virtual, como primeiro passo para uma próxima viagem a este país de sonho.
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