Viagem gastronômica à França

Viagem gastronômica à França Por Ataualpa P. Reis

Para aqueles que apreciam a arte de bem comer e beber, o sonho pode se resumir na região de Borgonha e Lyon a sudeste de Paris e em direção à Côte D’Azur. A Bourgogne é vasta. Ela começa na cidade de Dijon e vai até Villefrenche-sur-Saôme com 4 cidades importantes: Nuit-Saint Georges, Beaune, Chalon-sur-Saôme e Macon. São 300 km subdivididos em zonas de extrema importância na produção de famosos vinhos da Borgonha: Chablis, Côte de Nuits, Côte de Beaune, La Haute Côte de Beaune, Mâconnais, Le Beaujolais Village, Le Beaujolais e La Côte D’Or. Em suas terras são produzidos vinhos que podem ser divididos em duas grandes famílias: os brancos, produzidos com uvas Chardonnay e os tintos produzidos pelas uvas Pinot Noir. Entre os brancos, os famosíssimos Chablis, o Chassange-Montrachet e o próprio Montrachet. Entre os tintos, além do místico Romanée-Conti (considerado dos mais caros vinhos do mundo), o La Tache, a Vosme-Romanée o Chambertain, o Chevray Chambertain, o Veaugeot e o Pomard. Abaixo das cidades de Macôn, temos vários brancos de renome tais como o Pouilly-Fuissé e também os tintos Beaujolais. Numa classificação pessoal, diríamos que os melhores brancos do mundo estão entre estes de Bourgogne e que os tintos competem lado a lado com os de Bourdeaux que são elaborados a partir de Cepas Cabernet Sauvignon.

Vinhedos da Borgonha, em volta de um “chateau” (Château du Clos de Vougeot)

Viagem gastronômica à França

Um percurso sensacional para a degustação de vinhos pode ser feito de carro, numa extensão de 200 km, indo de Dijon a Lyon pela estrada Autorante 6. É uma viagem para se fazer vagarosamente e parando aqui e ali não só para se degustar o vinho mas porque também é uma região linda, de pequenos morros verdejantes de vinhedos e mais vinhedos, pequenos povoados tipicamente franceses, pequenas cidades com arquitetura contagiante e a visão do trabalho dos vinhateiros quase sempre mecanizados e com automóvel. Inicialmente no trajeto, temos Dijon, antiga capital da Borgonha, famosa pelas suas mostardas, belíssima! Um passeio pela cidade inclui visita obrigatória ao Palácio dos Duques com seu rico museu e ao Palácio da Justiça. Aqui às margens do Canal de Borgonha, na confluência dos rios Suzon e Ouche pode-se fazer um lindíssimo e incomparável passeio de peniche, um confortável bateau com capacidade para 6 passageiros e tripulação, durante 7 dias navegando pelos canais cheios de eclusas (34 ao todo) que se enchem por comportas para deixar navegar o barco. Este passeio lhe dá direito, entre os outros, de saborear uma comida caseira no próprio barco, cozinha da região e vinhos da região. Ao lado, a paisagem se sucede com campos muito verdes, vacas, pescadores das margens, alamedas, aldeões em bicicletas, cachorros e árvores. No final, até um passeio de balão em Gissey sur Ouche com cinco passageiros e o chef pilot Pierre Bonet. O balão voa suave sobre campos de trigo e vinhedos, durante 30 minutos por cerca de 40 km.

O Chateau de Pommard onde existem famosas e bem sortidas “caves”, rodeado de vinhedos

Saindo de Dijon uma primeira parada em Gevrey-Chambertain, um pequeno povoado vinhateiro com um restaurante gostosissimo e onde se pode inicia a degustação dos vinhos. A seguir, outra parada em Vougeot com seu famoso vinho e a pequena vila de Vosne Romanée. Aqui vale uma parada para se conhecer a famosa vinha de Vosne Romance Conti, onde se produz un vinho de qualidade máxina. É uma experiência interessante a procura do vinhedo, minúsculo e tratado como jardim, e o papo com os aldeões a respeito deste vinho. Um deles nos narrou que teria em 45 anos tido uma única oportunidade de provar o vinho e mesmo assim 1 copo. Para se comprar 1 garrafa de vinho é preciso comprar 1 caixa com vários da região e apenas 1 Conti e ao preço de mil dólares. O vinhedo tem apenas 1.850 metros quadrados, menos de 2 quarteirões de terra meio empedrada sem mato ou qualquer coisa fora do lugar, localiza-se um pouco acima do povoado, numa encosta que no outono fica dourada, quando as folhas amarelam antes de cair e produz cerca de 700 caixas por ano.

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A seguir, Nuits St. Goerges, já uma cidade maior e que vale uma parada e uma dormida. Aqui se encontram vendas de vinho das variadas marcas da região e em todas se pode degustar. Beaune, sede administrativa de Côte D’Or, é a capital do comércio de vinhos. Dois monumentos marcam o tempo dos duques; o Hotel dos séculos, hoje museu do vinho e o magnífico Hotel Dieu, hospital fundado em 1443 e que é um dos monumentos mais visitados da França. No pátio central, um decor da cidade de Flandres com suas galerias e mansardas luxuosas, seus pavilhões e telhados de telhas envidraçadas. O ponto alto desta visita é o político do Juízo Final, obra-prima do pintor Roger Van der Weyden. Também uma visita à cozinha e à farmácia do Hotel fazem parte do programa. Logo após Beaune, uma visita ao Chateau de Pommard interessantíssima. Fundado em 1726, ocupa 20 hectares e produz um vinho grand cru da Borgogne. Armazena em seus tonéis que ficam no subsolo em túneis com temperatura natural de 15 graus cerca de 200.000 garrafas das safras de 80 a 84. Faz-se de cada setor prova de determinada safra e acompanhada de queijos da região. Ao final pode-se comprar 1 caixa ao preço de 1.500 a 2.000 francos. Continuando viagem rumo a Lyon chega-se a Chagny que além de produtor de vinhos de qualidade é a primeira parada gastronômica. Esta região da França é considerada a região da haute cuisine e aqui 6 grandes chefs de cuisine se destacam: Michel Lorain em Joigny, Marc Meneau em Saint-Pére sous-Vezelay, Bernard Loiseau em Sanlieu, Jacques Lameloise em Chagny, Jean Pierre Billoux em Digoin Georges Blanc em Vonnas Almoçar ou jantar nos restaurantes de qualquer um deles, é considerado um programa cinco estrelas e participar de um verdadeiro espetáculo de elegância, beleza, etiqueta, luxo e sobretudo de comida do mais alto padrão. Geralmente estão situados em locais aprazíveis, lindos, bucólicos e quase sempre com pequeno hotel, selecionados pelo famoso Relais e Gourmet e recomendados àqueles que queiram apreciar uma comida maravilhosa em local mais maravilhoso ainda. A primeira parada em Chagny para almoçar com Lameloise é uma grande satisfação gastronômica. Restaurante suntuoso e com grande menu, porém o conjunto com o hotel fica no centro dá cidade e um pouco barulhenta, não apresentando aquele bucolismo dos Relais e Gourmet. A parada seguinte é Joigny para hospedagem no Hotel e Restaurante La Côte Saint Jacques de Michel Lorain. O local é absolutamente romântico e situado às margens do rio Yonne que banha a cidade, fora do centro. São 2 prédios, um antigo e outro novo, ligados por um túnel aberto sob a rua que divide os 2 prédios onde existe uma adega notável com os vinhos à temperatura ambiente e dirigida por Jacqueline Lorain, sua mulher. Os apartamentos são absolutamente fantásticos, com vista para a cidade e o rio.

Hotel-Dieu edificado em 1443

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No restaurante que é considerado 3 estrelas Michelin um menu notável em mesas de cristais e porcelana e cujo serviço leva 3 horas de duração com lugares sob reserva e com início às 20 horas. As especialidades da casa são Dos De Saumon Sauvage en Vessie, Morue Fraiche au jus de viande e Escargots à la creme de Persil. Nesta rota gastronômica, vai-se a seguir para Vonnas, onde se encontra o grande George Blanc com um hotel de fazer qualquer um ficar maravilhado pela beleza do local, o super charmoso ambiente do hotel, o cheiro agradável e as instalações magníficas. Sua casa fica logo ao fundo do hotel e um heliporto entre as duas construções e as quadras de tênis. O restaurante é muito luxuoso, o serviço é impecável e o menu é perfeito. As especialidades são: La crepe Parmentiere au Salmon et au Caviar, Bar de Ligne à la Mariniere e Saint Jacques à la Coque. Continuando viagem sempre em direção à Cote D’Azur, chega-se agora em Lyon, considerada a capital gastronômica da França. Em nenhuma parte do território francês, brilham tantas estrelas culinárias (umas sessenta), nem existem tantos restaurantes (uns seiscentos), para um número tão pequeno de habitantes. A paixão dos lioneses não é o futebol nem as finanças, mas seguem apaixonadamente a trajetória dos chefs do lugar. Lyon, além de ser uma cidade histórica, como berço do parlamentarismo francês, e lançadora da moda das gravatas de seda, é agora também famosa pela presença do grande chef de cuisine Paul Bocuse. Quase todos os cozinheiros da cidade estão muito cedo no mercade comprando seus produtos e logo após atravessam a rua e se reúnem no bar Nouveau Lyon para tomar o seu copo de Beaujolais. Só então retornam às cozinhas. Aqui 3 restaurantes merecem visita obrigatória: o de Paul Bocuse, de Alain Chapel e o dos Troigros em Rouen (32 km acerca). Comer em qualquer deles é experiência que vale para a vida. toda. O restaurante de Paul Bocuse fica 5 km fora da cidade em Collonges-au-Mont-d’Or e muitos de seus frequentadores vêm de Paris a Lyon pelo T.G.V., trem “bala” que liga as 2 cidades em 2 horas. O ambiente do restaurante é de luxo e o serviço impecável. As especialidades são: Soupe aux truffes Noires Loup en Cronte de la Mediterranée Farci, Mousse Homard, Volaille de Bresse en Vessie.

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