Nomes fundamentais nos 300 anos da Literatura em Minas Gerais – Rogério Faria Tavares
Em três séculos, os mineiros presentearam o Brasil com os mais importantes nomes da literatura nacional. Como escreveu o professor Antônio Carlos Secchin, da Academia Brasileira de Letras, na ‘orelha’ do livro “Literatura Mineira: Trezentos anos”, que idealizei ainda na presidência do BDMG Cultural (integralmente disponível, sem custos, no site da instituição), o nosso estado conta com autores de primeira linha em todos os estilos de época da nossa história literária: “É de se ressaltar que, para além das culminâncias representadas, em prosa e verso, por Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais talvez seja o único estado em que todos os períodos literários encontraram expressões de relevo”.
No Romantismo, a presença de Bernardo Guimarães é forte. Nascido em Ouro Preto, foi intelectual de múltiplas habilidades, dedicando-se ao Jornalismo, ao Magistério, à Magistratura, à Poesia e ao Romance. Aos cinquenta anos, publicou seu livro de maior popularidade, “A escrava Isaura”, depois transformado em telenovela, quando correu o planeta, fazendo sucesso até na China. Tal obra confirma a posição
abolicionista do escritor, engajado na principal causa social de seu tempo. Bernardo também assinou “O Garimpeiro”, “O Seminarista”, “O Índio Afonso”, entre outros, dando provas de sua prolífica produção.
No Naturalismo, o nome de Júlio Ribeiro é o mais representativo. Natural de Sabará, era abolicionista, republicano e conhecido por cultivar polêmicas e ideias anticlericais. Seu “A Carne”, de 1888, é o livro-símbolo do movimento naturalista brasileiro, corrente que se inspirava na estética defendida pelo francês Émile Zola. O romance causou escândalo no momento de seu lançamento, sobretudo por abordar temas até então considerados tabus, como o amor livre, o divórcio e a emancipação feminina. Estudioso da Língua Portuguesa, também publicou Gramática Portuguesa”, em 1881.
Nascido na então Congonhas do Sabará, hoje a cidade de Nova Lima, Augusto de Lima foi Presidente de honra da Academia Mineira de Letras. Presidente do Estado em 1891 – havendo sido quem propôs a mudança da capital para Belo Horizonte – ainda exerceu vários mandatos de deputado federal. Cultor do Parnasianismo, sua Poesia contém, para muitos especialistas, relevantes reflexões filosóficas, reveladoras de uma visão peculiar e complexa do mundo, que, muitas vezes, entrou em conflito com o pensamento religioso tradicional.
Alphonsus de Guimaraens, igualmente de Ouro Preto, foi um dos expoentes do Simbolismo. Promotor de Justiça e, depois, Juiz de Direito, produziu versos inesquecíveis, marcados pelas características do movimento ao qual se filiou. “Ismália”, uma obra de arte, é poema que venceu os desafios do tempo e o esquecimento, sendo recitado até hoje com grande frequência. Patrono da Academia Mineira de Letras, é pai do poeta Alphonsus de Guimaraens Filho e avô do poeta Afonso Henriques.
Na cena contemporânea, Minas continua ativa, brindando os brasileiros com escritores de talento excepcional, tanto na Poesia (com Adélia Prado, Yeda Prates Bernis, Ana Elisa Ribeiro e Ana Martins Marques) quanto na Prosa, seja no romance, seja na crônica, seja no conto. Neste último gênero, uma boa mostra da produção mais requintada do estado na atualidade pode ser obtida pela leitura de “20 contos sobre a Pandemia de 2020”, lançado no final de novembro pela Autêntica Editora em parceria com a Academia Mineira de Letras e já à venda nas livrarias de BH e nas plataformas virtuais. Livro histórico. E imperdível.