CATAGUASES, a PRÉ-BRASÍLIA

Ouro Preto do século 20

Ângelo Oswaldo

Ex-Secretário de Estado de Cultura

Fotos: Hernani Digital

Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina (1908)

Gosto de dizer que Cataguases é a Ouro Preto do século 20. Assim como a antiga capital mineira é um emblema do século 18, Cataguases sintetiza e simboliza os 900 pelo acervo modernista ali preservado. Desde o início do século passado, a cidade demonstrou intensa sintonia com as inovações trazidas pelo tempo. Fábricas de tecido e usinas hidrelétricas alardeavam a chegada do progresso. Um grupo de jovens poetas lançou a Revista Verde, entre 1927 e 29, atraindo a atenção dos modernistas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Nessa época, Humberto Mauro criava o cinema brasileiro, e filmava películas estreladas pela bela Eva Nil.

 

 

Fábrica de Fiação e Tecelagem Cataguases (1913) – Instituto Francisca de Souza Peixoto (Chica)

Francisco Inácio Peixoto, um dos poetas verdes, chamou Oscar Niemeyer para projetar sua residência, na Rua do Pomba, em 1940. E recheou-a com móveis de Joaquim Tenreiro, telas de Portinari, Tarsila, Segall, Guignard, Iberê, além de uma tapeçaria de Lurçat. A partir daí vieram mais edificações modernistas: o Colégio Cataguases (1949), também de Niemeyer, onde estudou Chico Buarque; o Cine Edgard, de Aldary Toledo e Carlos Leão; as praças Rui Barbosa e Santa Rita; o prédio dos Irmãos MM Roberto, o hotel de Aldary Toledo; os painéis de azulejos de Djanira, Anísio Medeiros e Portinari: as esculturas de Bruno Giorgi e José Pedrosa e Ian Zach, e muitas obras de Francisco Bolonha, Ubi Bava, Luzimar Goes Teles, Fernando Graça e Roberto Burle Marx. Mais recentemente, esculturas de Amílcar de Castro e Sônia Ebling, além do painel de azulejos de Rafael Zavagli.

 

 

Hotel Cataguases

O centro da cidade foi tombado pelo IPHAN, e há um grande empenho na preservação dos exemplares modernistas edificados. Um curso de arquitetura está em plena atividade, enquanto arquitetos de toda parte fazem romaria para a visita ao acervo fabuloso. A despoluição visual das ruas centrais é prova de que os cuidados com a preservação oferecem bons resultados. O Polo Cinematográfico da Zona da Mata, coordenado por César Piva e incentivado pelos projetos de Mônica Botelho, à frente da Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, com patrocínio da Energisa, evidencia a vitalidade cultural da cidade envolve a região. Em Cataguases, a cultura exerce uma força extremamente positiva no sentido do seu desenvolvimento. Anuncia um novo futuro, a partir da herança das ações de vanguarda acumuladas ao longo do século 20.

 

 

One thought on “CATAGUASES, a PRÉ-BRASÍLIA

  • 14 de outubro de 2020 em 09:31
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    Parabéns, Ângelo Oswaldo, pelo excelente texto.
    Suas observações são sempre preciosas e verdadeiras lições sobre o respeito e importância que a História merece.
    Reverencio sua inteligência, cultura e olhar sobre o que é nosso.

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