PONTO DE VISTA – Sérgio Menin

Novo Normal: Desejo, Instrumento ou Realidade ?

O que mais se ouve falar atualmente é a expressão “Novo Normal”. Mais aqui do que lá fora, já que os brasileiros adoram qualquer palavrinha da moda e têm o hábito de repeti-la insistentemente para demonstrar que estão atualizados e informados. Na realidade, a expressão não é nova e foi criada em 2009 por Mohamed Aly El-Erian, assessor do Presidente Barack Obama e Coordenador do Conselho de Desenvolvimento Global da Casa Branca. Na época, a expressão foi cunhada para identificar novos padrões econômicos resultantes da crise financeira que alcançou o planeta no ano antecedente. No entanto, essa mesma expressão foi resgatada por pessoal de instituições supranacionais, como a ONU, e vem sendo aplicada principalmente pelo movimento globalista, para materializar expectativas de comportamento e ajustamento das sociedades diante da Pandemia causada pelo Covid-19. Essa expressão consta formalmente da Proposta de Pacto Global defendida pela ONU para gerenciar a pandemia e mitigar os seus efeitos sociais e econômicos, incluindo conceitos muito diferenciados como, por exemplo, mudanças de hábitos e rearranjo produtivo, além de promoção de “políticas permanentes de diversidade e inclusão” naquilo que ficou definido como sendo o cenário de “pós pandemia”.

Na prática, e entre nós, o termo “Novo Normal” tem sido usado para diferentes propósitos e com conceituação igualmente variada. Para muita gente, a expressão materializa um desejo ou conjunto de desejos, que os adeptos dessa acepção esperam que ocorram naturalmente como sendo o lado positivo e compensador das agruras que todos sofremos com o advento da pandemia do Covid-19. Essas expectativas são variadíssimas e incluem desde um ambiente natural menos poluído, até cargas mais leves de trabalho, passando por aumento do tempo gasto com o lazer e com o convívio familiar – incorporando rotinas como a do “home office”, a de compras “online” e a de vestimentas menos formais – e melhorias gerais na qualidade de vida. Os defensores mais entusiasmados dessa acepção costumam justificar suas expectativas com os exemplos práticos das próprias soluções de vida e trabalho que apareceram naturalmente durante o período ainda em curso de reclusão e confinamento, sem levar em consideração, adequadamente, as suas condições de sustentabilidade. Essa argumentação nem sempre costuma discernir com lucidez as mudanças que foram trazidas pela própria ocorrência da pandemia, daquelas que ocorreriam naturalmente com o progresso e com o avanço tecnológico, cuja adoção teria sido apenas antecipada ou acelerada com o advento da crise. E essa distinção é uma questão importante, especialmente para separar o joio do trigo, para indicar a possibilidade de manutenção e permanência ou de reversão e abandono após o término da catástrofe pandêmica. Junto com os que veem as coisas por esse prisma e torcem por suas vantagens e preferências, há também aqueles que utilizam doutrinariamente a situação como instrumento de luta para uma ampla e definitiva mudança de modelo organizacional da sociedade, dos métodos de produção e da distribuição patrimonial ou para uma simples mudança política. Esses, isoladamente ou através de suas organizações políticas, costumam apostar que a ocorrência da pandemia precisa ser aproveitada para produzir a chamada “virada do tabuleiro”, materializando uma revolução de fato ou uma troca de comando. São aqueles que resistem à volta da normalidade, combatem-na reativamente  e sempre esperam que as consequências econômicas e sociais do desarranjo estrutural possam agravar-se mais um tanto para lhes facilitar os objetivos ideológicos. Correndo ao lado dessas duas tendências principais, e de várias nuances intermediárias ou misturadas, avança a própria realidade, alicerçada em regras robustas que foram sendo estabelecidas e aprimoradas pela humanidade durante todo o seu longo processo civilizatório. Esse é o avanço que interessa e do qual podemos esperar algum benefício efetivo e duradouro. É pra ele que temos que torcer. A roda da produção tem que voltar a girar o mais rapidamente possível e com a máxima produtividade, para que possamos recuperar o enorme prejuízo causado por tudo isso. Os fatores que sempre comandaram o progresso da humanidade em sua luminosa trajetória desde as cavernas até os tempos atuais, atuarão – também como sempre atuaram – para tirar o máximo beneficio do sofrido aprendizado que estamos tendo com essa pandemia, incorporando as mudanças de hábito que se mostrarem efetivamente positivas e abandonando os procedimentos que não se apresentarem como susceptíveis de aproveitamento eficaz. E que nenhuma frustração nos aflija se, ao término de tudo isso, percebermos que o tal de “Novo Normal” não passou de uma ilusão ficcional ou de um instrumento de mobilização política perniciosa.

Sérgio Menin – Engenheiro, especialista em Recursos Hídricos e empresário

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