PONTO DE VISTA – Sérgio Menin

Torcer pelo pior é uma doença!

A sociedade brasileira (e de certa forma, parte da sociedade mundial também) está apresentando um comportamento patológico diante da realidade atual. Muita gente esclarecida já se deu conta disso e procura explicar o fenômeno à luz da psicanálise e da sociologia, misturando contextualizações de natureza política e econômica, quase sempre focadas na extremada polarização ideológica que estamos vivenciando aqui e alhures. Pode ser que algumas dessas explicações – ou a maioria delas – sejam verdadeiras. Mas eu sempre desconfio de explicações muito elaboradas e complicadas para

os fenômenos naturais ou para as coisas que nos envolvem diretamente ou que acontecem à nossa volta. Geralmente são de difícil aplicação ou aceitação. Prefiro as explicações mais simples e objetivas, como hábito cristalizado na profissão de engenheiro. Para mim, o importante é reconhecer que a sociedade está doente e que boa parte dos brasileiros apresenta um comportamento patológico.

E a doença que nos acomete não é a infernal Covid-19, embora esta talvez seja o sintoma mais visível do nosso comportamento patológico. É este que precisa ser remediado e tratado com urgência, mesmo que não se lhe conheçam as causas ou as origens com muita precisão. Se eu tivesse que escolher um fato ou circunstância para exemplificar o comportamento patológico que vimos apresentando, destacaria exatamente a Covid-19 e as questões ligadas a ela. A pandemia adquiriu características ideológicas e partidárias, não só para explicar-lhe as causas e propósitos (supondo que estes existam fora do imaginário popular) como até mesmo para a sua gestão, para a sua profilaxia e proteção contra os seus efeitos. De forma muito resumida, temos hoje uma Covid-19 de esquerda e outra de direita! E por conta desse enquadramento ideológico as pessoas (e por consequência, algumas instituições ou agências por elas dirigidas) passaram a apresentar comportamentos bizarros, insensatos e altamente prejudiciais ao conjunto da sociedade e ao país. Muita gente, incluindo parte significativa da mídia passou a “torcer pelo vírus” ou pelo avanço da pandemia e de suas consequências na saúde da população e na economia em geral. Por mais estarrecedor que isso possa parecer, um número significativo de “torcedores” comemorou a marca dos 100 mil mortos pela pandemia como se fosse um gol da seleção brasileira em uma final de Copa do Mundo! Até mesmo a aceitação de um determinado tipo de tratamento para a infecção dividiu as pessoas; a Cloroquina e seu derivado mais suave, a Hidroxicloroquina, passou a ser rejeitada por uns e até mesmo retirada do protocolo das instituições responsáveis pela saúde pública por ser idiotamente classificada como se fosse o “remédio do Bolsonaro e do Trump”! Mesmo agora, que a Comissão Nacional de Saúde da China incluiu esse remédio como terapia precoce para a Covid-19 em suas “diretrizes de tratamento”, o uso dessa substância continua sendo ideologicamente rejeitado por muitos brasileiros, que priorizam o agravamento da crise e o desgaste político do Presidente.

Mencionei o comportamento patológico diante da pandemia e de seus efeitos, apenas por ser o exemplo mais visível desse absurdo. Mas ele está longe de ser o único nesta época de extrema polarização ideológica. Essa psicopatia aparece de supetão nas formas mais surpreendentes. Agora mesmo, a ruptura de uma tubulação secundária na Barragem de Jati, no Ceará, que integra as instalações do empreendimento de Transposição do São Francisco foi anunciado festivamente como um acontecimento auspicioso, em uma espécie de comemoração velada, por muitos órgãos da mídia. Outros pronunciamentos feitos por vários agentes portadores dessa mesma e funesta patologia, trataram de noticiar o acontecimento como se se tratasse do rompimento da própria Barragem de Jati, procurando associá-lo à tragédia de Brumadinho! Isso porque, na cabeça desses doentes, a ”Transposição”, que era um empreendimento de esquerda ter-se-ia transformado em um empreendimento de direita! Isso não pode continuar assim. Temos que combater essa doença com a mesma intensidade com que vimos tratando a Covid-19. Não há razão alguma, em qualquer circunstância, que justifique a “torcida pelo pior”!

Sérgio Menin – Engenheiro, especialista em Recursos Hídricos e empresário

One thought on “PONTO DE VISTA – Sérgio Menin

  • 17 de junho de 2023 em 15:06
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    Sou a Rafaela Barbosa, achei seu artigo excelente! Ele
    contém um conteúdo extremamente valioso. Parabéns
    pelo trabalho incrível! Nota 10.

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