O PODER DO VOTO
O PODER DO VOTO. Em sua obra Por amor às cidades (1997), Jacques Le Goff – renomado historiador francês – recria a história de alguns espaços urbanos europeus. A partir de breves narrativas e belas obras de arte, ele escreve uma nova história e salienta os principais pilares para a construção de cidades.
Partindo da Idade Média, Le Goff mostra que a “ville” ou núcleo urbano nasceu das trocas comerciais, da necessidade de convívio social seguro, do respeito aos bens privados e comuns. Transformada em verdadeiro cenário de beleza, a “ville” despertou, em seus cidadãos, pontos de identificação: o orgulho de viver ali, o sentimento de pertencer aquele lugar e o desejo legítimo de ter bons governantes.
Apesar de distinguir-se como essencialmente moderna, Belo Horizonte exibe, em sua história, alguns aspectos semelhantes aos da “ville” mencionados por Le Goff. Cidade idealizada no período colonial, em um lampejo de liberdade, ela deixou de ser utopia e ganhou concretude, nos princípios do século 20, sob a direção dos seus primeiros governantes. Voltada para o desenvolvimento econômico, a capital mineira tem forte vocação para as atividades comerciais, o apreço pela ordenação urbana e valoriza o convívio social. No plano da cultura, a capital de Minas abriga importantes centros universitários, núcleos de pesquisa e tecnologia voltados para as diversas áreas do conhecimento, guarda ricos acervos históricos e artísticos. A moderna capital de Minas motivou escritores diversos como Machado de Assis, João do Rio, Olavo Bilac. Inspirou também os modernistas mineiros como Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade e Henriqueta Lisboa que, com a delicadeza poética peculiar assim declara no texto “Belo Horizonte Bem querer”.
O PODER DO VOTO
“A expressão de uma cidade é múltipla. A beleza de uma cidade é instável. Sua grandeza é limitada à fronteira mesma das coisas.
Uma cidade se assemelha às outras porém se a amamos é única: tem a forma de um coração” (…)
Em tempos de eleições, entretanto, o poético cede lugar para a crítica; o cidadão que vive e trabalha em Belo Horizonte tem a oportunidade de elencar os sérios problemas que afetam a cidade e a despem de seus possíveis encantos. Apontam as crises na saúde, na educação, no meio ambiente; desfiguram a cidade quando tratam do desemprego, da pobreza, das questões habitacionais, dos desafios decorrentes da mobilidade urbana, da segurança.
Com o propósito de atribuir uma nova vestimenta para a cidade, os passadistas revisitam os arquivos da capital e avaliam alguns serviços prestados pelos seus 53 prefeitos, ao longo de seus 127 anos de existência como capital. Exaltam as obras que julgam valorosas e exemplares. Sem dúvida, trata-se de uma trilha interessante, uma vez que permite extrair das experiências do passado lições apropriadas para o momento presente de BH.
Por outro lado, aqueles que são predestinados a vislumbrar o futuro da cidade, participam de organizações destinadas a elaborar projetos de desenvolvimento econômico e social. Adotam princípios de sustentabilidade e de inclusão para assegurar o caráter humanizado do espaço urbano. O modelo prevê um modo de participação ativa e atualizada na vida política da cidade.
O PODER DO VOTO
Entre o passado ou o futuro, a história e a utopia, o eleitor da capital mineira deve, sobretudo neste momento de proximidade das eleições para a prefeitura de BH, considerar a força da sua escolha política e o poder do seu próprio voto. Certamente, é este voto que dá outra vida à cidade e à democracia, sustenta o governante representativo e permite implementar políticas voltadas para as necessidades dos seus representados.
Por BARJUTE BACHA – Graduada em Letras/UFMG e em Jornalismo/PUC Minas, é Professora de Literatura, Língua Portuguesa e Redação, com experiência no Ensino Médio e Superior. Na área da Literatura, é autora de publicações de caráter didático e crítico (ensaios, artigos, prefácios). Ministra cursos e palestras em instituições privadas e públicas, como a Academia Mineira de Letras, PUC Minas e UFMG. É Secretária Geral da Academia Feminina Mineira de Letras (AFEMIL) e Diretora Secretaria da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (AMULMIG).