Deusas – Mães
Deusas – Mães
Por Marilene Guzella Martins Lemos
No mês de maio nosso jornal não se esquece do “Dia das Mães” e, para representa-las, seleciona um grupo de mulheres como as “Mães de Primeira Linha”. Geralmente, aquelas que se destacam em algum setor e conseguem conciliar a vida profissional com a maternidade.
A mãe, nos dias atuais, precisa se desdobrar para cumprir bem a missão. Muitas vezes chefe de família, arca com responsabilidades além de suas forças.
A elas, todas as palmas, louvores e, principalmente, respeito por serem as protagonistas de um dos grandes milagres da natureza.
Milagre que continua no vínculo forte entre mãe e filho, descrito e respeitado como um arquétipo poderoso, não restrito ao ser humano. Chega a ser comovente a ligação de animais com suas crias.
O homem primitivo viu a maternidade justamente como um milagre.
A capacidade de criar em suas entranhas uma nova criatura causava uma admiração tão grande, um enigma tão inexplicável que a mulher se tornou muito poderosa, mágica, merecedora da submissão e proteção masculina. E se ela tinha esse poder, era uma deusa, como os outros deuses que enxergavam responsáveis por cada manifestação não entendida da natureza.
Essa condição serviu de base para um matriarcado milenar, poder esse refletido no fato de serem femininas as primeiras deusas dos primeiros panteões.
A mais antiga escultura encontrada, A Venus de Villedort, uma pequena imagem de terracota datada em 27.000 mil anos, apresenta características maternais, ventre e seios enormes. Não foi a única. Outras, com grande antiguidade, comprovam a afirmação.
Nômades, coletores e caçadores, esses primeiros humanos não faziam a ligação entre sexo e gravidez, mesmo entre os animais ao seu redor.
Foi então definido o papel de machos e fêmeas. Como a fêmea passava o tempo gestando ou aleitando as novas gerações, o macho tornou-se protetor e provedor.
Milênios transcorrendo, numa evolução natural, nômades foram encontrando lugares propícios e se estabeleciam, criavam raízes, cultivavam a terra, domesticavam animais. E vaio à tona a grande descoberta: cabras apartadas não davam cria.
O homem participava da reprodução, também era mágico. E a dedução: se a terra apenas alimentava a semente ali depositada, a entranha da mulher fazia o mesmo. A semente era do homem, ele era mais importante.
Guinada radical.
Cai o matriarcado, nasce o pátrio poder. O filho pertencia ao pai. Consequência, casamento monogâmico para garantir paternidade e direitos de herança num território já demarcado. A mulher, de dona da vida, passou à condição de simples nutriz.
O óvulo feminino só foi descoberto em 1827.
Mas ficou um resto de culto à maternidade e as deusas mães permaneceram nos altares. Podemos observar que todas as culturas antigas veneram uma deusa com características maternas, ou seja, aquela que invocada, derrama suas graças de acolhimento, consolo, proteção, amor, perdão.
A mitologia nos fornece inúmeros exemplos.
Os egípcios tiveram em Isis uma deusa-mãe, cuja representação, tendo ao colo Osiris, pode ter servido de inspiração para as renascentistas madonas de tantos pintores famosos.
Os tibetanos ainda cultuam Kuan-Yin, deusa da misericórdia.
A China teve em Hsi-Wang-Um, uma Rainha-Mãe do Oriente, a quem as mães rezavam pedindo proteção para as filhas.
Os japoneses tiveram Amaterasu.
Na Suméria, Lilith foi demonizada, transformada num oposto de deusa-mãe.
Para os celtas a Terra era a Deusa Mãe.
Na índia, a deusa Kali, da destruição e renascimento, é a Divina Mãe do Universo, essência de tudo e fonte da existência do ser.
A cultura ioruba, africana, apresenta Iemanjá como a Mãe do Mundo, um arquétipo maternal que se formou como mãe de todos os orixás.
Na antiga Grécia, Demeter é uma das mais conhecidas deusas. E a mãe por excelência, a senhora da fertilidade da terra.
Na Caldeia e Babilônia Inanna-Isthar não era propriamente uma deusa-mãe, mas leva a um tempo em que o Feminino era ativo, dinâmico e poderoso.
O cristianismo, que no princípio de sua existência focava o culto apenas à Trindade, Pai, filho e Espírito Santo, observou que em muitos lugares persistia a devoção às antigas deusas-mães mitológicas. Concluiu que o ser humano necessita de uma entidade com características maternais a quem rezar em suas necessidades. Não precisou recorrer a nenhum ser sobrenatural. Em sua história já estava presente a figura real de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus. Foi então dado ênfase ao seu culto. Não foi adotada como deusa, mas como uma entidade que serve de mediadora entre humanos e seu divino filho.
A Virgem Maria supriu uma lacuna e tem, através dos séculos, sido amada e glorificada como a Mãe Terrena e Celestial da Humanidade.
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