Wanda 90
Wanda 90
Gente muito fina, cantora e dama da sociedade comemora noventa primaveras
(arquivo pessoal)
Obedecendo às restrições de segurança sanitária que imperam desde o surgimento da Covid-19, a cantora lírica Wanda Werneck Naves, que também pontifica na sociedade, reuniu quase que exclusivamente familiares e uma meia dúzia de amigos para festejar a data, com o característico porte de grande dama. O cenário foi o tradicionalíssimo bar-restaurante Tip Top, que fica próximo à sua residência em Lourdes, em torno de um almoço à la carte. Sem grande prolongamento, mas com o tempo necessário para marcar a data. Atendendo a pedido da PRIMEIRA LINHA, o renomado crítico musical J. Carlos Buzelin assina uma crônica nesta
página sobre a trajetória artística de WW.
Wanda Werneck
J. CARLOS BUZELIN – Crítico Musical
Das mais conceituadas vozes de Minas Gerais, com prestígio nacional, Wanda Werneck pode ser considerada reserva artística e cultural da nossa terra. Ademais bela e boa atriz, nas vestes líricas arrebatava o público, notadamente como a faceira, sensual e perigosa”Lola”, da”Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, pelas inúmeras e consagradoras vezes que empreendeu difícil e fascinante papel. Partitura que exige da intérprete total despojamento da sua personalidade, à incorporação de um personagem adverso, astuto e forte, na pungente obra , de grandiloquente emoção siciliana. Wanda Werneck nestas vestes, era a grande
atração, comumente bisando difícil ária. Das suas performances, todas magnificamente elaboradas, jamais foi superada pela nata qualidade do seu trimbre doce e suave. De uma extensão
incomum, em que os graves, médios e agudos se interagem segundo primorosa linha-de-canto. Assim, conquistou exclusividade, inclusive por sua escola orientada pela emérita Mine Ginochi, de saudosa lembrança.
Diria que Wanda Werneck nada fica devendo às mais célebres divas do canto lírico. Sobretudo, ao se apresentar em inúmeros recitais, momentos extasiantes encontram na complexa partitura “Mon coer s’ovre à tá voix”, da ópera “Sansão e Dalila”de Saint-Saens, a mais arrebatadora exaltação, alcançada por ela. Versátil, empreende páginas sacras, tais como a «Ave Maria” de Bach-Gounod, assim como demais peças do gênero, arrancando aplausos até mesmo dentro das igrejas!
Ao defender repertórios eruditos-populares que marcaram memoráveis musicais de Hollywood dos anos de l940 ou 50, ela não só domina o idioma inglês, como jamais perde a d
inâmica de um ritmo exclusivo que encantou o mundo. Considerada uma Jane Fromann brasileira, diria eu , sem medo de errar… Do cancioneiro pátrio, encontra nos mestres, sua referência. Inclusive pela clara dicção, algo que a maioria dos sopranos não conseguem…Assim, Carlos Gomes, Heckel Tavares, Alberto Nepomuceno, Villa-Lobos, dentre outros, na voz de Wanda Werneck assumem a exata dimensão da sua genialidade!
Wanda Werneck pode ser considerada a mais representativa das cantoras da sua geração, mantendo-se plenamente em dia com a sua arte, cujo tempo não apaga. Ao contrário, cada vez mais, a engrandece.
Bravíssima!