Galeria de Artes da mineira Ana Paola Araújo é eleita a melhor de Madrid

Galeria de Artes da mineira Ana Paola Araújo é eleita a melhor de Madrid

NA TERRA DE GRANDES PINCÉIS

Com a proposta inovadora de mostrar trabalhos feitos exclusivamente por mulheres, a F&deO recebeu o Prêmio de Melhor do Ano. A galeria ocupa, desde setembro de 2021, espaço privilegiado na vizinhança de outras galerias famosas, no coração do badalado e cobiçado bairro de Salamanca, na capital da Espanha. Inaugurada pela belo-horizontina Ana Paola Araújo – Doutora em Arquitetura e professora de Arquitetura na Westminster University of London e na Architectural Association School of London, as mais prestigiadas escolas de Arquitetura do Reino Unido, a galeria promove tanto a obra de artistas consagradas como de artistas emergentes, do moderno ao contemporâneo. O sucesso começou já na abertura do espaço, com a exposição da desenhista e ilustradora britânica Olivia Kemp, uma artista com obras na coleção particular do Príncipe Charles da Inglaterra, no Museu Victoria & Albert de Londres e na coleção Rothschild

Foto: Jorge Allendel / Julen Martín / divulgação

DA ARQUITETURA AO CONCORRIDO MERCADO INTERNACIONAL DE BELAS ARTES

Formada pela UFMG, onde cursou o seu Mestrado, Ana Paola trocou BH por Londres em 2002, para fazer o Doutorado em Arquitetura na renomada The Bartlett School of Architecture, da University College London.

Já no período em que cursava o Mestrado, a belo-horizontina lecionou na Universidade de Oxford. Após terminar o Doutorado, dedicou-se à carreira acadêmica. Tornou-se professora de Arquitetura na Westminster University of London e na mais antiga escola de Arquitetura independente do Reino Unido e uma das mais prestigiadas e conhecidas do mundo, a Architectural Association School of London, referência internacional e conhecida pela sigla AA, onde atua há uma década.

Amante das artes, Ana Paola acalentava o sonho de ter uma galeria. Suas pesquisas indicaram que o melhor lugar da Europa para abrir uma seria Madrid. No final de 2020, quando ficou decidido que suas aulas na Universidade em Londres continuariam a ser remotas, ela resolveu se mudar para a capital da Espanha, de onde continua lecionando. Ali, concluiu suas pesquisas e acabou de desenvolver o projeto da galeria, seguindo sua linha de investigação transversal entre a Arquitetura, o Design e as Artes Plásticas.

E foi no coração de Madrid que nasceu a F&deO. “O projeto do nosso espaço, assinado por Isabel Lopez Vilalta, foge do modelo do cubo branco e inspira-se nas galerias de Peggy Guggenheim e na visão da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi”, explica Ana Paola.

A FEMINILIDADE E A ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Segundo ela, a F&deO busca promover uma sensibilidade feminina, expressa por diversos temas e suportes. “Entre os aspectos que nossas artistas exploram em sua obra se incluem a dimensão decorativa, pessoal e emocional. Do moderno ao contemporâneo, as obras oferecem novas perspectivas sobre os gêneros tradicionais e as vanguardas”, diz.

Ana Paola destaca que as técnicas, temas e suportes associados à tradição feminina se aproximam do artesanato, do design, da decoração, às vezes da literatura e também de outras áreas, artísticas ou não. “A arte feminina é, por definição, híbrida, e por isso se adapta especialmente bem a espaços onde se desenvolvem atividades humanas”.

Outro diferencial ressaltado pela professora e galerista: “Aproximamos a sensibilidade das artistas ao cotidiano, para que ela seja apreciada como parte da vida, além do ambiente isolado dos museus e das instituições culturais”. E, para ser coerente com o compromisso de investigar o feminino e poder mostrar uma gama mais ampla de trabalhos, a galeria trabalhará com uma rotação, ao invés de uma lista permanente de artistas.

ASSESSORIA PARA ARTISTAS, EMPRESAS, COLECIONADORES E ESPAÇOS PÚBLICOS

A galeria F&deO conta também com um setor de ‘Art Advisory’, através do qual colabora com empresas, arquitetos e designers de interiores para encontrar obras de artes para seus espaços e projetos. “Além dos artistas da nossa lista, realizamos um diretório internacional que inclui obras de arte em diferentes faixas de preço, e que seriam adequadas para exibição nacional, pública e corporativa. Da mesma forma, podemos ajudar os clientes a terceirizar obras de arte de artistas femininas que eles podem querer adicionar à sua coleção”, ressalta Ana Paola.

Outro destaque da galeria é o auxílio na produção de obras de arte sob medida. O trabalho é acompanhado desde a concepção até a conclusão, segundo ela. “Sempre com o objetivo de dar maior visibilidade à visão artística que promovemos, damos boas vindas igualmente a colaborações com marcas de moda e design”.

A equipe da galeria F&deO realiza ainda conferências e outros eventos educativos, “através dos quais refletimos sobre as práticas e sensibilidades que foram historicamente associadas ao feminino. Através desses eventos comunicamos com outros setores, e consideramos como o resgate do feminino pode ajudarnos a construir sociedades e indivíduos mais equilibrados e realizados”, se orgulha a galerista.

O FEMININO NA CULTURA

Ana Araujo, diretora da Galeria F&deO
Ana Araujo,diretora da Galeria F&deO

Para Ana Paola, abordar o feminino na cultura não é simplesmente uma questão (também muito importante) de dar às mulheres direitos e oportunidades iguais. “Trata-se de uma questão que diz respeito fundamentalmente à natureza humana, pois, ao longo da história e com certeza até os dias atuais, marginalizamos essas qualidades e sensibilidades humanas que, por uma razão ou outra, foram femininas de gênero”, assegura.

A arquiteta lembra que teorias psicanalíticas argumentam que o conteúdo que marginalizamos, individual ou coletivamente, não desaparece simplesmente. “Ele se manifesta em nossas vidas associado a sentimentos de ansiedade, vergonha, às vezes euforia, mas sempre com um nível de inquietação e desconforto. Essa é praticamente a condição que o feminino tem mantido em nossas chamadas culturas civilizadas por muitos séculos”, lamenta.

Segundo Ana Paola, o trabalho que a galeria mostra e promove é compatível com o que se pode chamar de “normalização” ou assimilação do feminino na cultura.

“Não tem vergonha ou ansiedade, mas também não é eufórico.
Pode não parecer tão inteligente ou sexy, mas pode ser sensual, divertido,
sedutor, de maneiras mais matizadas do que espetaculares.”

Ana Paola Araújo

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