ISLÂNDIA cenários de beleza ímpar

ISLÂNDIA cenários de beleza ímpar 

Silvania Capanema, escritora e jornalista de turismo e gastronomia.

Para quem sonha com férias saudáveis de genuíno lazer, descanso para a mente, diversão e atividades físicas a seu gosto, apresento um destino bem original, conhecido por poucos. Bem distante do estresse das grandes cidades caóticas e do lugar-comum do turismo de massa – no espaço, por estar próximo ao polo Norte e no tempo, pois a sensação é de retrocedermos ao início do mundo. Sim, este lugar ainda existe e corra para conhecê-lo antes que as altas demandas do turismo estraguem tudo. A Islândia é um país de contrastes. Embora pareça, pela natureza inóspita e selvagem, que voltamos à primeira era da formação vulcânica do planeta, estamos em um país classificado pela ONU como o terceiro mais desenvolvido do mundo.

Cenário de beleza ímpar
Silvania – na costa norte da ilha

A Islândia é uma ilha situada no Atlântico Norte, a meia distância entre a Groenlândia e a Noruega. O melhor acesso à capital Reykjavik é por via aérea. São três horas desde Heathrow, em Londres. Por mar, de balsa, leva de dois a três dias partindo de Oslo, na Noruega. A ilha tem 103 mil km2, área inferior à um quinto do estado de Minas Gerais. A população fixa é estimada entre 300 e 350 mil habitantes, dependendo da estação do ano, sendo que dois terços dos islandeses vivem na capital e arredores e o restante da população se distribui por cerca de dez cidadezinhas com menos de 18 mil habitantes. Em agosto de 2024, mês de maior afluxo de visitantes, o país recebeu oficialmente 265 mil turistas, sem contar com a mão-de-obra que acompanha o fluxo turístico. A alta sazonalidade deve-se às condições climáticas. É interessante saber que, no inverno nórdico, a ilha permanece três meses no escuro, sem a luz do sol, e no verão não há noite por três meses. Nas estações intermediárias, as noites vão decrescendo e os dias aumentando, ou o contrário. Na temporada turística, quando a temperatura oscila entre 1 e 7 graus C., a população de Reykjavik chega a quadruplicar, formando uma divertida miscelânea de turistas, na maior parte, escandinavos e americanos. Nem por isto se perde a paz, pois é só sair da área metropolitana para os viajantes se tornarem escassos.

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É indispensável alugar um carro para conhecer a ilha. Melhor ainda é tratar o passeio, com antecedência, em uma boa companhia de turismo local. Além da segurança de não se perder pelos caminhos – o que sempre acontece com visitantes estrangeiros pois praticamente não há indicação alguma, o idioma é muito difícil para nós e é raro encontrar alguém que fale um mínimo de inglês – a viagem é muito mais proveitosa e divertida ouvindo-se as lendas e informações históricas e políticas sobre o país.

Cenário de beleza ímpar
Aurora boreal

Boa parte dos turistas restringe a visita à ilha a menos de uma semana, o suficiente para visitar o sudeste. Mas se pretende apreciar as maravilhas da natureza ímpar deste paraíso e respirar ar puríssimo, o passeio chamado 360o. dá a volta na ilha pela Rota 1, o que leva, no mínimo, dez dias para percorrer de 1300 a 1600 km com tempo para aproveitar as principais atrações, fora o tempo de permanência na capital. O que nos encanta a todo o tempo é a originalidade da geografia, a rusticidade da paisagem formada por cadeias de vulcões que podem, na superfície, parecer plácidos picos negros emergindo do manto branco de neve, mas que estão em plena atividade no subsolo e podem explodir em lavas de fogo a qualquer momento.  O movimento milenar do solo em constante atividade vulcânica forma pedregosos canyons, coloridos por vegetação rasteira. Por estas rachaduras desce, caudalosa, a cristalina água do degelo, cortando o solo até chegar aos lagos, proporcionando do repousante prazer contemplativo à prática de esportes – de leves a radicais, dependendo da vontade e perícia de cada um. Porém, não se aventure a viajar sem a companhia de guias que conheçam o país. Nas áreas montanhosas, a capa de gelo permanente que cobre o solo esconde fissuras de onde é impossível sair em caso de queda. Em quase todo o país, a população é rarefeita, não existe policia rodoviária nem atendimento de emergência e o tráfego na rodovia é bem escasso – facilmente se conta mais de meia hora para se ver outro veículo na estrada.

Como roteiro do primeiro dia, considere o Golden Circle, a rota turística mais famosa do país, situada no nordeste e distante menos de uma hora da capital. O Parque Nacional de Thingvellir é um importante sítio histórico, onde aconteceu, em 930, a primeira assembleia nacional das tribos de origem viking, que evoluiu para a formação de um parlamento que perdurou até 1798, quando o governo trasladou-se para Reykjavik. Em 1944, deu-se, neste local, a declaração de independência da Islândia. O único lugar do planeta onde se pode ver, à flor da terra, o encontro entre as placas tectônicas da América e da Europa fica justamente no parque. Apresenta uma fissura estreita e profundíssima por onde corre um veio d’água de cor indescritível. Na vizinhança está a área de águas termais do vale de Haukadalur, onde está o Geysir que deu origem ao nome de todos os outros gêiseres. Ao lado, está a belíssima cachoeira Gullfoss, que despenca pelos 32 m. que separam os dois níveis do desfiladeiro do popular rio de rafting Hvita. O melhor local para almoço na região é a fazenda de tomates e de criação de cavalos Frioheimar, em Reykholt. No solo pobre da ilha, atualmente só crescem forrageiras, alimento para os animais – cavalos, carneiros e algum gado. Praticamente todo o abastecimento de hortifrutigranjeiros vem de além mar. A criação de fazendas usando a energia geotérmica para aquecer os galpões revestidos com plástico e bombear a irrigação para os canteiros suspensos tem sido de grande valia para a economia islandesa. O melhor programa ao entardecer é aproveitar os balneários da área metropolitana de Reykjavik, como o Sky Lagoon. Ao escurecer, contemple o céu ártico e, estando na temporada adequada, aguarde o maravilhoso espetáculo das auroras boreais!

Escolhendo a direção do litoral sul, percorra a sucessão de impressionantes cachoeiras. Em Seljalandsfoss, passa-se por trás da potente queda d’água de 60 m. de altura. Pertinho está a linda cachoeira Gljúfrabúi escondida atrás das pedras de um nicho do Canyon Dweller. Prosseguindo, prepare-se para caminhar ao longo de um riacho até alcançar a cachoeira Skógafoss, espetacular cena de cartão postal com 25 m. de largura e queda de 60 m. As lendas, que inspiraram a série “Vickings”, aqui filmada, contam que foi em uma praia próxima que desembarcou o primeiro aventureiro a pôr os pés na ilha. Por falar em lendas, a cultura islandesa é riquíssima em mitologia, envolvendo tanto fatos de comprovação histórica como superstições e crendices de origem céltica, que dão alma e inspiram as curiosas figuras de trolls e duendes que estão por toda parte.

No monte Katla, primeiro de uma cadeia de vulcões que explodem a cada cem anos, é imperdível a visita às cavernas de gelo, cenários surreais com rochas mescladas de preto (lava vulcânica petrificada) branco e azul (gelo sedimentado). O próximo ponto de parada obrigatória é o magnífico canyon Fjaorargllúfur. A partir da região das geleiras eternas, rica em cenários extraordinariamente belos amplamente aproveitados pela indústria cinematográfica, prosseguindo rumo ao leste, chega-se ao paraíso dos esportes radicais. Subindo as geleiras a bordo de superjeeps, a 300/ 400 m. de altitude, há tanto caminhadas razoavelmente tranquilas, desde que se calce uma rede metálica chamada crampon, quanto uma jornada de cerca de uma hora pela geleira Vatnajokull pilotando velozmente as snowmobiles. Do alto das geleiras descortinam-se paisagens de tirar o fôlego, que já fica escasso. Lá em baixo estão as praias, como a Diamond Beach, de solo negro formado por reluzentes pedrinhas ovais que vem se desprendendo há milênios dos paredões formados por colunas de basalto. Aos pés das geleiras há lagos glaciares, como Jokulsárión, onde a infraestrutura turística proporciona passeio em barcos anfíbios para aproximar-se dos icebergs e das focas. Programe-se para se hospedar no luxuoso Hotel Jokulsárión, em Hofn –  vale pela alta gastronomia e pelo aconchego dos ambientes que apresentam artísticos trabalhos de marcenaria no estilo escandinavo.

O leste da Islândia é a região dos fiordes rodeados de penhascos. Junto à faixa marítima, que recebe corrente de água quente do Golfo, situam-se antigas vilas de pescadores, hotéis de veraneio e áreas de camping para motorhomes. Além das tradicionais fazendas, da raridade de florestas densas com animais trazidos do continente que se tornaram selvagens, dos lagos e cascatas, a principal atração é Hengifoss, cachoeira com 128 m. de queda – a terceira mais alta do país.

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Neste ponto da viagem já se percorreu cerca de 800 km. Daí retorna-se a Reykvavik pelo mesmo caminho do sul ou dá-se a volta completa na ilha, passando pelo descampado norte e oeste, onde realmente o mundo nos parece primitivo.  A capital do norte é Akureyre, típica cidade nórdica onde fica o aprazível spa Forest Lagoon, de onde se tem as melhores vistas das auroras boreais. A partir daí são quilômetros de estrada deserta passando por verdejantes fazendas de criação de animais. Ao fundo, a paisagem em preto e branco é incrível – dos picos dos vulcões cobertos de neve, a puríssima água do degelo desce por uma sucessão de cascatas e riachos de fundo negro que formam desenhos estriados no solo, tal qual uma tela de arte contemporânea. À noroeste, junto à rodovia, fica o desfiladeiro Kolugljufur, que apresenta uma sequência de sete cachoeiras.

Chegando à costa oeste, terra das falésias à beira do mar profundamente azul, depara-se com os deslumbrantes cenários cinematográficos de “Game of Thrones” e de muitos outros filmes e séries. A península de Snaefellnes foi classificada como o destino mais bonito da Europa pelo Luxury Travel Guide. Antes de voltar à capital é obrigatório tirar fotos na belíssima cachoeira Kirkjufellsfoss e subir até a cratera Saxhóll para apreciar a vista espetacular.

Reykjavik oferece programas culturais, gastronomia islandesa de alto nível e ampla rede de hospedagem. Aproveite o final da viagem para ir às cafeterias e fazer compras de agasalhos e souvenirs nas lojas do centro. Certamente, qualquer que seja o tempo passado na ilha, sentirá saudade!

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desfiladeiro

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