LUTO NA VIDA SOCIAL DE BH – Wanda Werneck
LUTO NA VIDA SOCIAL DE BH – Wanda Werneck
Das mais conceituadas vozes de Minas Gerais, com prestígio nacional, Wanda Werneck pode ser considerada reserva artística e cultural da nossa terra. Ademais bela e boa atriz, nas vestes líricas arrebatava o público, notadamente como a faceira, sensual e perigosa ”Lola”, da ”Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, pelas inúmeras e consagradoras vezes que empreendeu difícil e fascinante papel. Partitura que exige da intérprete total despojamento da sua personalidade, à incorporação de um personagem adverso, astuto e forte, na pungente obra , de grandiloquente emoção siciliana. Wanda Werneck nestas vestes, era a grande atração, comumente bisando difícil ária. Das suas performances, todas magnificamente elaboradas, jamais foi superada pela nata qualidade do seu timbre doce e suave. De uma extensão incomum, em que os graves, médios e agudos se interagem segundo primorosa linha-de-canto. Assim, conquistou exclusividade, inclusive por sua escola orientada pela emérita Mine Ginochi, de saudosa lembrança.
Diria que Wanda Werneck nada fica devendo às mais célebres divas do canto lírico. Sobretudo, ao se apresentar em inúmeros recitais, momentos extasiantes encontram na complexa partitura «Mon coer s’ovre à tá voix”, da ópera “Sansão e Dalila”de Saint-Saens, a mais arrebatadora exaltação, alcançada por ela.
Versátil, empreende páginas sacras, tais como a «Ave Maria” de Bach-Gounod, assim como demais peças do gênero, arrancando aplausos até mesmo dentro das igrejas!
Wanda Werneck pode ser considerada a mais representativa das cantoras da sua geração, mantendo-se plenamente em dia com a sua arte, cujo tempo não apaga. Ao contrário, cada vez mais, a engrandece. Bravíssima!
Agraciada com o Prêmio Primeira Linha Especial 2020
Mineira de Belo Horizonte, Wanda Werneck Naves é o primeiro nome que surge quando o tema é música lírica. Mezzo soprano, ela é sinônimo de talento e musicalidade e, nesta edição da Revista Primeira Linha, é a grande homenageada com o troféu.
Filha do engenheiro paulista Mário Werneck, que dá nome à Avenida principal do Bairro Buritis, Wanda cresceu ao som do piano da mãe, a mineira de Sabará Ana Monteiro Werneck, que dedilhava o instrumento divinamente, e também tinha uma voz privilegiada, assim como sua irmã, Maria da Conceição de Lima.
“Minha irmã tinha uma voz mais forte, mais apurada, eu era mais fraquinha, mas ficava ouvindo as duas e fui me aperfeiçoando, passei a ter aulas de canto e nunca mais parei”, relembra.
Wanda casou-se aos 17 anos com o cirurgião cardiologista Maurílio Naves, com quem teve cinco filhos homens: Mário, Cláudio, Felipe, Rodrigo e Eugênio. “A vida dá muitas rasteiras na gente, é preciso ter forças para aguentar”, confessa ela, ao se referir à perda do marido e, tempos depois, do primogênito, Mário, também cardiologista como o pai e vítima de um infarto fulminante como ele. A música sempre foi o antídoto contra as dolorosas perdas: “uma dádiva, um dom de Deus, foi a música que me sustentou”, reconhece.
LUTO NA VIDA SOCIAL DE BH – Wanda Werneck
Viúva aos 49 anos, começou o seu aperfeiçoamento no canto até que, em 1986, passou a se apresentar profissionalmente. Foram centenas de casamentos, bodas e festas sem fim, embaladas por sua voz inconfundível e suas interpretações únicas e exclusivas, que sempre levantaram as plateias mais exigentes.
Ícone da música lírica em Minas Gerais, Wanda Werneck sempre foi disciplinada e cuidadosa com sua voz preciosa: «nunca fumei nem bebi, dormia cedo e sempre evitei os gelados », conta ela. A cantora sorri ao se lembrar de um dia em que resolveu saborear um sorvete num shopping da capital e foi flagrada pelo maestro do Palácio das Artes, com quem trabalhava. “Quase morri de vergonha, parecia que estava cometendo um grande pecado”, conta ela.
Cavalleria rusticana, a ópera predileta
Dentre as dezenas de obras que interpretou, Wanda destaca a Cavalleria rusticana, uma ópera em um único ato, do italiano Pietro Mascagni, como a sua predileta. Foram dezenas de apresentações tanto em Belo Horizonte como em outros estados e até mesmo no exterior. Outra peça que marcou a sua carreira foi a Ave Maria de Gounod, obra com a qual abrilhantou centenas de casamentos e bodas.
Outro momento emocionante de sua carreirra musical foi durante as comemorações do centenário da Escola de Engenharia da UFMG, quando a plateia com mais de mil pessoas que lotaram o Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, a aplaudiu de pé por longos 20 minutos asssim que ela entoou o Hino Nacional. “Eu decorei o hino em um dia, a gente acaba que se esquece de alguma estrofe, mas foi inesquecível”, relembra ela.
Avó de dez netos e com seis bisnetos, Wanda continua morando no elegante bairro de Lourdes, onde vive desde a infância. Tem saudades do amplo quintal da casa em que morava com o marido e os filhos, no mesmo bairro, mas se adaptou bem ao amplo apartamento para onde se mudou depois da viuvez.
Das pessoas importantes em sua carreira artística, destaca o saudoso Palhano Júnior, que faleceu neste 2020, e pelas mãos de quem marcou presença nos clubes Minas Tênis e no PIC, consolidando a sua carreira profissional.
LUTO NA VIDA SOCIAL DE BH – Wanda Werneck
Outro personagem importante de sua história musical é o crítico José Carlos Buzelin, que assim escreveu sobre o DVD Wanda Werneck: “o DVD confirma a festejada cantora, em suas músicas favoritas, com gravações atuais capazes de surpreender. E surpreendem pelo fato de Wanda Werneck não ter sido embaçada pela ação do tempo. Voz em pleno fôlego, agudos sustentados e brilhantes passagens dos graves para os médios e clara dicção”.
Com a pandemia, a soprano restringiu suas apresentações, mas ainda é requisitada para saraus intimistas e para os casamentos que ganharam nova versão nestes tempos de quarentena. Nestas ocasiões, ela empresta a sua voz belíssima, com sua técnica de canto irrepreensível e a perfeição de suas interpretações, sempre calçadas em meticulosos e prolongados ensaios. “A gente tem de se atualizar sempre, buscando manter a voz e estudando sem parar”, ensina a mestra.
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