NOSSO VINHO BEBENDO & AJUDANDO

NOSSO VINHO BEBENDO & AJUDANDO

Por Inimá Souza Colunista de vinhos e Diretor da Wine Center D.O.C

Como ocorre periodicamente – e sempre em boas companhias -, chego ao coração do vinho brasileiro; isto mesmo, o Vale dos Vinhedos. Enquanto percorremos, sem nenhuma pressa, a Linha Leopoldina em direção à Via Trento, onde está a nossa confortável hospedagem, observamos a intensa movimentação de turistas pelas românticas “estradinhas”, e no entorno das dezenas de vinícolas. É pura e contagiante alegria; afinal, estamos no maior centro enoturístico do Brasil.

Certamente, você já percebeu que mostro um cenário que era a realidade até o estado sulino ficar submerso nas águas da catástrofe que o assola, de ponta a ponta; e nos vinhedos, abatendo extensas áreas de cultivo em todas as regiões produtoras, além de destruir instalações e equipamentos das muitas vinícolas. E isso, depois de uma safra ruim, conforme disse-me um dos maiores produtores brasileiros.

NOSSO VINHO, BEBENDO & AJUDANDO
Bruna Cristofoli em frente a parreira e ao restaurante da família

NOSSO VINHO BEBENDO & AJUDANDO

Segundo esse produtor – cuja liderança no segmento é inconteste -, sua grande preocupação não é apenas com os danos que atinge a sua vinícola, senão também com a situação das demais; e, de maneira especial, aquelas de pequeno porte, das quais, muitas com estrutura estritamente familiar, cuja produção é totalmente vendida aos visitantes. Sem eles, vender para quem?

Em dado momento da conversa as palavras desse produtor soaram-me como apelo: “este é um momento particularmente oportuno para que o apreciador de vinhos, aquele ou aquela que bebe vinho, mostre sua solidariedade ao vinho brasileiro; e quem ainda não o conhece, venha a conhecê-lo. De que forma? Bebendo vinho brasileiro.”

NOSSO VINHO, BEBENDO & AJUDANDO
Inácio Salton, 63 anos conta que trabalha com uvas desde sempre

Posto entre os cinco maiores produtores de vinho do Hemisfério Sul, e classificado como o 14° maior produtor mundial, o Brasil produz vinhos de elevada qualidade em todas as suas regiões vinícolas: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, Sul de Minas. As classificações, pois, não decorrem de marketing, ou são aleatórias; mas, sim, do reconhecimento internacional – atestado por sucessivas premiações, mundo afora.

NOSSO VINHO BEBENDO & AJUDANDO

Por quê, então, o brasileiro prefere vinho importado, de qualidade duvidosa, ao nosso, de qualidade elogiada, safra após safra? Desconhecimento. Quantos sabem dos nossos surpreendentes Merlot, Cabernet Sauvignon, Shiraz, Cabernet Franc e tantos outros tintos; e do consagrado frescor dos Sauvignon Blanc, Chenin, Chardonnay etc? Como desconhecem, não bebem.

Alguns fatores contribuem para esse desconhecimento: a enraizada cultura de que o importado é melhor do que o nosso; a ainda tímida divulgação que se faz sobre o vinho brasileiro; e o preço de nossos vinhos – considerados caros em relação aos importados, especialmente, sul-americanos. Quanto a isso, não há nenhum exagero na afirmação de que a tributação brasileira “bebe” mais da metade de cada garrafa do nosso vinho. Justíssimo, pois, esse líder ao confessar que o produtor brasileiro é movido pela paixão ao vinho.

Essa paixão reflete-se na qualidade, a cada safra, e para conhecê-la – se você é daqueles que ainda torcem o nariz para o vinho brasileiro -, dê o ponta pé inicial exercitando sua curiosidade, abra uma garrafa e o avalie. Assim você compreenderá as manifestações elogiosas ao vinho brasileiro, da parte dos mais famosos críticos internacionais, a exemplo de Jancis Robinson, Charles Metcalfe, Oz Clarke, e outros.

Especialmente, neste momento, seja solidário, abrace o vinho brasileiro. O RGS agradece.

NOSSO VINHO, BEBENDO & AJUDANDO
Água acumulada em parreiras de Bento Gonçalves (RS)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *