AS MULHERES DO ANO DE 2023

Solange Braga

Por Fátima de Oliveira
Entrevista e redação

O que você pensa que uma mulher brasileira, de 80 anos, está fazendo? A maioria, certamente, já se aposentou e está em casa usufruindo do ócio, viajando, curtindo os netos, quando não cuidando deles. Pensamento errado se estivermos falando de Solange Braga Ferreira e Sousa, 80 anos, uma das fundadoras da Associação das Voluntárias da Santa Casa (AVOSC). Formada em Ciências Sociais e Filosofia e também em História.

Há 51 anos não existia a tão necessária humanização da saúde. Crianças, adultos ou idosos, sem recursos financeiros, ficavam longo tempo internados e sem um familiar por perto. Não existia a solução, mundialmente famosa, que é o Sistema Único de Saúde (SUS), criado exclusivamente no Brasil. “E quando começamos, sem o SUS, a Santa Casa era de uma categoria destinada a indigentes que não tinham direito a acompanhante. Foi exatamente para sanar essa dificuldade que nasceu a AVOSC/Associação das Voluntárias da Santa Casa comenta Solange Braga.

Era o final dos anos 60, quando a humanização da saúde nem era cogitada. Ela conta que na pediatria tinha berçário e crianças até 12 anos, cada quarto tinha seis leitos. Crianças sem os pais, sem ninguém da família. As visitas só aconteciam às quintas-feiras, sábados e domingos. Quem mudou o rumo das coisas, foi o médico Manoel Firmato, recém chegado dos Estados Unidos, onde o serviço de voluntariado já existia. Tomamos conhecimento da existência do serviço no Hospital de Clínicas em São Paulo, fomos lá, passamos o dia todo, nos mostraram a organização do serviço, nos deram material, estatuto e o que precisávamos. Isso foi em 1971. Fui uma das fundadoras da Associação”.

No início as tarefas eram apenas na pediatria e maternidade, com as voluntárias ensinando a cuidar dos bebês e outras tarefas afins. Hoje elas estão envolvidas em todas as alas do hospital. O grupo cresceu, chegou a 160 até antes da pandemia, hoje são pouco mais de 100 mulheres. Casada, três filhos, cinco netos, Solange Braga conta que o voluntariado é apenas para quem gosta e consegue se dedicar. Quem não se adapta não fica.

Temos que ter dom, caso contrário não funciona conclui Solange falando dos bons momentos da associação como o cinquentenário da entidade, o carinho recebido dos pacientes. “Eles nos fazem mais bem que nós a eles”, analisa.